Já não é segredo nenhum que o Elon Musk fez uma proposta de 44 mil milhões de dólares para comprar o Twitter e ela foi aceite. Também não é segredo que ele afirmou a intenção de tornar o algoritmo da rede social open-source e a plataforma num local com maior liberdade de expressão.
Isto soa bem ao ouvido, se não conhecermos a peça. Ele gosta de se afirmar como absolutista da liberdade de expressão, mas só quando lhe convém e quando não discordam dele.
Citando um artigo da Fortune:
Vernon Unsworth, a British caver who helped rescue 12 boys trapped in Thailand, called Musk’s efforts to help a “PR stunt” in 2018. Musk retaliated by calling him a “pedo guy.” Then he paid $50,000 to a dubious private investigator to dig into Unsworth’s background in the U.K. and Thailand. He also attempted to depose a reporter, Ryan Mac, who was covering Unsworth’s defamation lawsuit against Musk.
O absolutismo da liberdade de expressão - falso, no caso dele - tem um problema: ignora intencionalmente que o mundo é um gradiente infinito de tons cinza e faz de conta que é a preto e branco. O mundo não é binário; antes fosse, era tudo mais simples!
Ben Burgis escreveu um artigo fantástico sobre este problema para a Jacobin, cuja leitura te recomendo vivamente. Segue uma citação do artigo abaixo:
I worry that we won’t be able to count on Musk to stick to his stated principles when they come into conflict with his profits. More importantly, it’s absurd that we live in the kind of capitalist hellscape where the only hope for reasonable norms protecting free speech online is that we get lucky and the right kind of billionaire purchases our digital public square. It’s as if we lived in a kind of libertarian dystopia where every inch of every city was private property, and we could only hold protest marches on sidewalks that happened to have been bought by billionaires who were personally friendly to free speech.
Por outro lado, é bem possível que o negócio não vá avante, como noticiou a Reuters há umas horas. Seja fechado ou não, a ameaça vai pairar sempre no ar.
É por isto e não só que eu fico com alguma preocupação em relação ao futuro da rede social. Ando por lá há quase 16 anos e vi o Twitter passar por várias fases, mas nunca nenhuma me fez ponderar tanto a minha continuidade lá como esta.
O mais provável é que me mantenha por lá, mas vou fazer para estar mais ativo no Fediverso, através do Masto.pt, uma das instâncias nacionais. Este tipo de rede social é muito mais orgânico do que o Twitter alguma vez poderá ser e não tens algoritmos a forçar-te a manter o engajamento a todo o custo.
Se não souberes o que é o Fediverso, lê a página da Wikipédia lusófona dedicada ao conceito.
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